Este blog foi criado para a disciplina de Tecnologias Contemporâneas na Escola - Curso de Teatro UAB/UnB. Tem como objetivo promover a pesquisa e a discussão sobre a relação das novas tecnologias com a sociedade, a educação e a arte.
sábado, 4 de setembro de 2010
Novela Ana Raio e Zé Trovão: uma análise crítica
A novela Ana Raio e Zé Trovão foi escrita por Marcos Caruso e Rita Buzzar e exibida pela extinta TV Manchete em 1990. O SBT está reprisando uma versão condensada em 150 capítulos, tornando-a mais ágil e coesa.
A trama conta a história de uma peoa, órfã de mãe, nascida no sul do país e que foi estuprada aos treze anos por um capataz de nome Cangerê. A protagonista (Ana Raio), interpretada por Ingra Liberato, fica grávida de uma menina chamada Maria Lua. Canjerê que havia sido acusado por roubo pelo pai da Ana, rapta a criança e desaparece.
Treze anos depois, Ana Raio trabalha em uma caravana de rodeios e percorre o país afora em busca da filha. Nesse ambiente de festas de peão e rodeios, a protagonista conhece Zé Trovão (Almir Sater), peão da companhia de Dolores Estrada (Tâmara Taxman) e os dois iniciam uma relação amorosa.
Normalmente as novelas atingem o público feminino, mas nesse caso, por trazer uma narrativa derivada do gênero western agrada também o público masculino.
A novela é uma superprodução que foge do formato das novelas globais e do eixo-Rio-São Paulo ao percorrer o Brasil. O cenário é o país com sua beleza e culturas diversas.
Apesar dessas inovações, a novela mantém o formato de folhetim com intrigas, amores que se concretizam apenas nos últimos capítulos e um apelo comercial que reforça certos estereótipos. O merchandising está relacionado ao estilo country/sertanejo que vende produtos da indústria cultural, vinculados às festas de peão de boiadeiros e ao universo country importados da cultura norte-americana. Faz parte desse universo as vestimentas, o modo de vida das pessoas, as músicas, o modo de falar (jargões relacionados aos rodeios), entre outros, o que acaba influenciando, principalmente, as pessoas mais ligadas ao meio rural.
Em geral, as novelas não se preocupam em refletir sobre conceitos relacionados ao respeito e à dignidade humana. Estão mais interessados em vender determinados valores que alimentam uma rentável indústria cultural e conseqüentemente, mercadorias. Mesmo as novelas da Rede Globo que “pretensamente” apresentam questões sociais importantes para a sociedade brasileira, o faz sem um maior aprofundamento dessas questões, criado modismos que se dissipam com o final da novela. No caso, a novela Ana Raio e Zé Trovão não foge à regra. Mesmo a proposta de mostrar “um Brasil que ninguém conhece” acaba ofuscada pelas tramas amorosas e as intrigas típicas desse folhetim.
Um aspecto que chama atenção na novela são as personagens femininas: mulheres fortes, em pé de igualdade com os homens e que lutam por aquilo que acreditam. Destaca-se também, a música de Almir Sater e Marcus Viana. Por fim, outro ponto interessante é a questão étnico-racial: apesar de um elenco de maioria branca, a novela traz um dos primeiros relacionamentos inter-raciais da teledramaturgia brasileira.
Reescrevendo a história: seria interessante condensar ainda mais a trama, dar ênfase a diversidade cultural brasileira, já que a proposta é mostrar o Brasil e abordar uma temática mais comprometida com as mudanças sociais. É evidente, que na medida em que esta análise da novela está restrita à apenas alguns capítulos assistidos, o conhecimento sobre o folhetim não é pleno e a visão pode-se se alterar com o desenrolar da trama.
BORELLI, Silvia. TELENOVELAS BRASILEIRAS: territórios de ficcionalidade: universalidades e segmentação. PUC. São Paulo.
meutonal.wordpress.com
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